A lenda de Hiram e a construcção do Templo de Salomão constituem a base do misticismo
maçónico. Afinal de contas o maçon é um pedreiro-livre, tal como Hiram fora.
Nas crónicas bíblicas ele é citado duas vezes: em Reis 13, ele é referido como sendo um israelita
da tribo de Naftali, perito fundidor de obras de bronze; mas já nas Crónicas (Paralipómenos), ele
é referido como sendo filho de uma mulher da tribo de Dan, perito, não só em fundição de metais,
como também na confecção de obras de madeira, tecelagem , escultura etc.354
Ambelain escreve:
“Hiram, pelo seu pai Ur, descende de Tubalcain, e por ele, em linha directa, de Caim e Samael.
Este, na tradição Judaica, é o Anjo Rebelde, o Tentador, o Anjo da Morte e por morte ritual a
Maçonaria sacraliza o profano (…). Desta estranha tradição nasceu um costume, o de denominar
“vale” o lugar onde se reunissem certos altos graus da Maçonaria (…). No século XVIII um grupo
(de maçons) tomou o nome de “ Filhos do Vale”. Num dos altos graus maçónicos, onde os
membros se reúnem num “vale”, o presidente da Loja leva o nome de “ sapientíssimo Athersatha”
(…). Este nome, traduzido do hebraico, significa “Prodigioso fundidor do deus forte”
355
Hiram encontra-se associado ao Rei Salomão precisamente por este ter ordenado ao primeiro que
o templo fosse construído. Ele é o construtor do Templo de Salomão, cuja estrutura reflecte o
próprio universo. A sua morte representa a transição do profano para o sagrado, do técnico para o
científico, do reino grosseiro da matéria para o reino subtil do espírito.356 Em Reis 13:7, lemos
que:
Salomão “Escolheu obreiros em todo Israel, e ordenou que fossem trinta mil homens. E ele os
mandava ao Líbano, dez mil a cada mês, de sorte que ficavam dois meses nas suas casas e
Adonhiram era o encarregado do cumprimento desta ordem. E teve Salomão setenta mil que
acarretavam as cargas, e oitenta mil cabouqueiros nos montes; fora os aparelhadores de cada obra,
em número de três mil e trezentos, que davam as ordens aos que trabalhavam. E o rei mandou que
tirassem pedras grandes, pedras de preço para os alicerces do Templo, e que as facejassem. E
lavraram-nas os canteiros de Salomão e os canteiros de Hirão; e os de Gíblios, porém, aparelhavam
as madeiras e as pedras para edificar a casa”
357
Hiram foi morto por três colegas que ambicionavam o seu lugar, passando a assumir um culto
maçónico de término do progresso do irmão. Por um lado, Hiram é louvado como uma figura solar,
por ser aquele que permite a construção do universo, isto é, o templo; por outro lado, Hiram é
louvado como a maior obra maçónica possível de ser concretizada, também simbolizada no
Templo.358
Este misticismo judaico é a base da maçonaria; desde Baphomet ao Templo de Salomão é
impossível negar a influência cabalista no pensamento maçónico. Ambos idealizam uma
concretização do Homem; uma construcção do Homem que progride para o seu término. No caso
de Baphomet, isto acontece com a união entre o ser e a origem universal; no caso do Templo, o
próprio fim da construcção do mesmo anuncia o fim da evolução do indivíduo.359
Reconhecidamente, esta lenda simboliza a construcção artificial de judeus bem como afirma a
supremacia dos mesmos. O Judeu Artificial é obra da Judeo-Maçonaria que molda o indivíduo à
sua vontade para transformar e destruir a sua natureza primordial, não permitindo nem querendo
que este seja um consigo mesmo, mas que se submeta ao reino dos judeus.
▪ Outro misticismo
Não seria possível terminar a análise do misticismo maçónico sem avaliar o seu símbolo bem como
outras entidades. As duas colunas Jakin e Boaz representam, novamente, equilíbrio. Neste caso,
equilíbrio do zodíaco.
Relativamente à coluna Jakin, quando o iniciado entra, possui a determinação do capricórnio que,
com o seu ardor e vigor, despedaça a porta do santuário iniciático.360 Ele tenta violar a entrada no
Templo mas é detido, imprisionado e submete-se a uma prisão quando o Sol percorre os graus de
Touro.361 Para receber um corpo, ele fecha-se no ovo uterino, onde morre para renascer no signo
de Gémeos. É nesta altura que se submete à prova do Ar. Atingido o cume do seu percurso, o Sol
desce até Caranguejo para se submeter à prova da Água e, posteriormente, do Fogo à qual preside
o Leão que devora tude que é ilusão362. Por fim, o Iniciado vence ao atingir a condição de Virgem,
para poder planar em alturas de pura idealidade.363
A coluna Boaz começa com a Balança, para o iniciado ser capaz de avaliar sem opinião préconcebida, exibidino serenidade emocional e racional.364 Passa para Escorpião, signo
revolucionário e transmutador. É nesta altura que o Iniciado se encontra em tumulto interior e se
desliga de tudo que é material e precioso. O espírito separa-se da matéria para se elevar sobre a
mesma, atingindo a pura intelectualidade.365 É aqui que atinge o estado de Sagitário. À medida
que o Sol declina, aproximamo-nos de Capricórnio, quando o Iniciado se recolhe e afunda nas
sombras e profundezas do seu ser.366 A sua renovação prepara-se com Aquário, permitindo traçar
planos e cogitações constructivas.367
O cinzel é uma ferramenta de trabalho que, temperado em diamante, permite partir a pedra mais
dura.368 Isto claro remete para a possibilidade de destruir qualquer concepção prévia de puro
conhecimento e intelectualidade, permitindo assim uma nova génese. Ademais, representa também
o espírito e vontade inquebrável do Iniciado.369 Por si só, o cinzel não teria importância não fosse
acompanhado pelo malhete (martelo). Este permite moldar a pedra, a ideia e o conceito. Representa
a autoridade, o heroísmo e a acção.370 É também o símbolo do secretismo e obediência maçónica
já que após este ser batido, nada é revelado fora da Loja.
A régua representa o infinito potencial da cognição humana e a união com o eterno. Como um
linha infinita, a régua pauta o conhecimento e pensamento que a cada revelação se encontra mais
próximo do Absoluto.371 Por sua vez, o compasso permite delimitar o progresso do Iniciado,
consciencializando-o dos limites do seu conhecimento e potencial, impedindo que este se perca
em discussões abtrusas e abstractas, mas que se foque no que é possível de ser alcançado.372
A Pedra dos Sábios foca o Iniciado no Mundo em que ele trabalha e que tem de moldar. A Pedra
é uma realidade em carne e osso visto que se trata do Homem que aprendeu a viver de acordo com
o caminho, ou o Tao, de forma humana, hominal e humanitária.373 Constitui a construcção do
Judeu Artificial; a bastardização do Homem para a construcção de um Judeu. O Pavimento
Mosaico realça o contraste entre o que é essencial e o que deve ser seguido. Destaca as emoções
positivas e negativas; as que devem ser controladas e as que devem ser rejeitadas. Se tudo fosse
uniforme, o Iniciado passaria pela vida incapaz de perceber qual o verdadeiro trajecto do maçon;
contudo, porque ele analisa as diferenças, é capaz de verificar qual o caminho a percorrer